sexta-feira, 19 de setembro de 2014

DOCE DE LEITE DA VÓ DOLA

É inexplicável a gostosura que é saborear o doce de leite feito com pouquíssimo açúcar! Exige que se coma devagar, deixando o bocadinho derreter na língua, inebriando os sentidos.
Desde a primeira vez que ganhei uma vasilhinha de vidro, embalando o doce que parece estar talhado, a exemplo do que acontece com a coalhada, eu me apaixonei...
Mas, nunca tinha feito esta receita.
Apesar de não me esquecer como se faz.
A receita, ouvi da própria doceira, a vó Dola. Avó dos meus filhos:
- Dá muito trabalho, porque demora. Você põe dez litros de leite, numa panela grande, e liga o fogo baixo. Acrescenta meio quilo de açúcar. Mexe até derreter e põe um prato fundo dentro da panela; o prato virado, que é pra não derramar quando ferver... Aí, você olha de vez em quando.
Na parte do “olha de vez em quando”, lembro-me de uma nora da vó Dola, a Filinha. Ela morava numa fazenda, lá em Minas, e fazia muito queijo maravilhoso e muito doce de leite. Sempre achei muito interessante ouvi-la dizer:
- Ontem, fiz 8 queijos e sequei 20 litros de leite.
Trabalhadora como poucas, a Filinha! Secar leite era como essa senhorinha entendia a sua tarefa; era o jeito dela verbalizar, resumidamente, ao se referir ao demorado processo de fazer doce de leite.
Ela falava assim:
- Queijo dá muito trabalho! Secar leite é fácil: a gente só olha de vez em quando!
Pois, na terça passada, separei exatos 4 litros de leite, recentemente retirados da fabriqueta natural da senhora vaca, e preparei-me para secá-los.
Depois de despejar o líquido em uma panela grande, acrescentei 200 gramas de açúcar cristal, mexi com colher de pau, acomodei o prato fundo virado e deixei, no fogo baixo. Ao longo de quase 6 horas, vi o líquido branquinho mudar a fisionomia... Teve a hora que percebi que já não derramaria mais e retirei o prato. Teve a hora que precisei ficar por perto e mexer mais vezes, ou grudaria no fundo e o resultado seria desagradável. Doce de leite com gosto de queimado não é uma boa pedida...
Quando ficou pronto, despejei o doce em pirex e deixei esfriar, para saborear.


Não posso deixar de comentar que minha sogra era muito generosa! Ela sempre trazia desse doce pra mim. Pois eu o fiz e fiquei impressionada com o fato de não render quase nada. E não estou disposta a dividi-lo com seu ninguém! E tenho dito!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

BOLO DE QUEIJO DA MINHA MÃE

Esta receita vem dos tempos ativos, de quando eu era uma profissional da educação movida a relógio. Eu chegava, na correria, de volta a casa, depois de me desdobrar no turno matutino, no Centro de Ensino 05 de Taguatinga, e, enquanto cuidava de terminar o almoço, que já deixava bem encaminhado, arrumava lancheiras, vistoriava uniformes, banhos e preparava a surpresa para o recreio dos professores, à tarde. Um mimo que tínhamos o costume de providenciar, com o maior carinho. Não era tarefa só minha: costumávamos fazer rodízio...
Este bolo era a minha receita preferida, pela praticidade.
Deu saudade! Por onde andam os apreciadores? O Ruberval, a Regina, a Maria Virgolino, a Maria Pereira, a Helena Miziara, a Pastôra, a Catarina, a Iraci, a Yoshie e tantos mais companheirinhos que ajudavam a aguentar a rotina pesada, onde foram parar?
Esta é mais uma das muitas receitas que herdei da minha mãe. Feita no liquidificador. A praticidade não depõe contra o sabor: fica uma delícia!
Pus, no liquidificador, seis ovos inteiros e quinze colheres (sopa) de açúcar. Deixei batendo por três minutos. Desliguei, para acrescentar uma colher (café) de baunilha e meio litro de leite. Tornei a ligar, retirei a tampa e adicionei uma colher (sopa, rasa) de margarina. Fui pondo, devagar, duas xícaras de queijo minas (não precisa ralar; basta cortar em pedaços pequenos) meia cura, mais seis colheres (sopa) de farinha de trigo. Para não judiar do liquidificador, dividi o leite. A receita pede um litro. Usei, até aqui, só meio litro. Misturei o restante do leite ao conteúdo do copo, com o liquidificador desligado. Mexi um pouco, com uma colher, antes de despejar a massa em forma untada, com margarina, e polvilhada, com farinha de trigo. Levei para assar em forno previamente aquecido a 200 graus. Demora, em média, meia hora para ficar pronto.
Simples assim!
Não fica com a consistência de um bolo; parece mais um pudim consistente. Principalmente, se utilizar queijo mais fresco. Se quiser, pode-se acrescentar uma colher (sopa) de pó-royal, para dar mais firmeza, na hora de cortar. Prefiro sem. Acho mais saudável.  
Fiquei mais de vinte e quatro anos sem fazer esta receita.
Era a predileta da amiga Maria de Fátima Nogueira. Nós nos conhecemos no Centro de Ensino 05 de Taguatinga, onde trabalhamos como professoras. Ela chegou à escola locomovendo-se com o uso de uma bengala. Logo, precisou de cadeira de rodas. Depois, ficou confinada a uma cama. Os médicos a diagnosticaram como paciente de esclerose múltipla. Era um tempo de poucas informações da medicina, para tratar casos assim. Quando sumia da escola, de licença médica, eu costumava preparar esta receita e levava a guloseima até sua casa. Fiz isso várias vezes. Não o fiz o tanto de vezes que deveria... Ela costumava mandar recados, intimando-me a visitá-la, quando eu demorava a aparecer. Eu tinha muitas desculpas, morando em chácara, tendo quatro filhos, vivendo sem empregada doméstica, quase que na maior parte do tempo... Na verdade, evitava ir, pois sofria vendo-a perder a capacidade, devagar e sempre, de falar, de rir, de comer...

Hoje, em homenagem a essa amiga querida e ao tempo que nos é dado viver neste plano, compartilho, com alegria, esta receita.