segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DINDINS DE AMENDOIM


Torrei meio quilo de amendoim, no forno, a 180 graus, por oito minutos. Esperei esfriar, esfreguei para soltar as casquinhas e fui para a área externa para ficar mais fácil me livrar delas. Coloquei os amendoins numa peneira e, enquanto os jogava levemente para cima, o vento se encarregava de levar as indesejadas casquinhas.... Os amendoins ficaram limpinhos. Coloquei-os no copo do liquidificador e reservei...
Numa panelinha, coloquei dois copos de leite e três colheres (sopa) de maisena, bem dissolvida nesse leite. Liguei o fogo e mexi o tempo todo para não empelotar. Assim que endureceu, mexi mais um pouquinho e acrescentei mais um copo de leite antes de desligar o fogo. Despejei o conteúdo no liquidificador. E deixei bater por três minutos.
Com a ajuda de uma jarra, acrescentei, aos poucos, mais um litro de leite (fui misturando e dividindo o líquido entre o copo do liquidificador e a jarra); o conteúdo de uma lata de leite condensado e três xícaras (chá) de açúcar. E deixei bater mais para dissolver o açúcar. Ficou pronto o conteúdo delicioso dos saquinhos que abri, enchi (com a ajuda de um funil) e amarrei, antes de pôr no freezer. Deu 33 dindins.

O bom é que nem todos gostam de amendoins... Só uma norinha que é fã...
Em 84, já no início do mês de dezembro, nas minhas atribulações entre trabalho e casa, já morando na chácara, subia pela estrada e via, a minha direita, uma plantação com folhas de um verde-claro diferente dos cultivares que conhecia; mais intenso e bem brilhante... Quando voltava, observava aquele tapete maravilhoso, à esquerda, e ficava encucada, tentando adivinhar o que estava crescendo ali...
No dia que me lembrei de perguntar, ouvi que era surpresa.
Já de férias, teve um dia que meu pai me pediu para levá-lo de carro até a porteira (naquele tempo, tinha uma porteira na entrada da chácara) e eu fui e tive mesmo a minha surpresa que foi enorme:
- Você não disse que tinha muita vontade de ver uma plantação de amendoins? Pois taí!
Que coisa linda! A natureza é a mãe da criatividade! Aqueles pequenos arbustos carregadinhos daquelas caixinhas (muito metidas a besta!) bem torneadinhas me deixaram impactada!
Pois meu pai, com a ajuda de um peão, deu-se ao trabalho de cultivar uma roça de um alqueire de pés de amendoim, para me ver ter aquele momento sublime.
Pena que não fotografei!
Mas busquei uma foto no Google (https://www.google.com.br/search?q=planta=plantacao+de+amendoim) e posto aqui para ilustrar.

Essa pessoa boníssima e feliz - que Deus me presenteou como pai - sabe que o segredo da felicidade consiste em doar-se... Foi o que fez ao longo da sua vida que está perto de marcar 90 anos. Confessou-me que se sentiu muito gratificado vendo a minha alegria. E os olhinhos do meu pai brilharam quando me disse:
- Meu pai também plantou um punhadinho de pés de amendoim pra mim, quando eu era pequeno! A terrinha dele era só um pedacinho; não dava mesmo pra plantar muito...


NOVIDADE:

Minha mais nova ferramenta para encher saquinho de dindin. Finalmente! Uma maravilha! Agora, meu trabalho de avó paparicadora de netos devoradores de dindin ficou mais fácil. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

JILÓ NO AZEITE


O poema Amanhã, escrito pela poetisa Rosana Fleury, verseja sobre o mutável:

“Amanhã é outra história.
Amanhã é outro dia.
O descortinar é diferente.
[...]
É outro dia
Outra decisão
Outras palavras
E não foi tudo em vão
[...]”

O poema se encontra à página 76 do livro Não cortem meus cabelos, publicado em 2008.
Assim é a minha relação com o jiló.
Num belo dia, num descortinar diferente, em uma viagem para Barra do Garças, há uns bons vinte anos, experimentei jiló, numa churrascaria de beira de estrada.
Como escreveu a poeta:
“E não foi tudo em vão”
Porque fiquei tomada de amores pelo jiló.
Pode ser do jeito que vier!
É comigo mesma!
Em conserva.
Na salada, ralado, com cebola.
Refogado.
Omelete de jiló.
No azeite...
O da foto assim verdinho, tem sido meu caso atual: no azeite.
Na hora da refeição, o toque especial, o afago que o paladar espera encontrar, vem nele, no danadinho amargo do jiló.
Cortei doze jilós em rodelas mais largas. Pus em uma panela com água e uma pitada de sal e levei ao fogo. Quando ferveu, marquei três minutinhos. Desliguei o fogo, escorri a água e coloquei as rodelinhas de jiló numa bacia onde havia preparado água e gelo. Taí o segredo de manter assim verde o verde do jiló...

Num vidro de boca um pouco larga, pus meia xícara de azeite, uma colher (café, bem rasinha) de sal, uma colher (sopa, rasa) de açúcar, uma pitadinha de pimenta-do-reino, cebola ralada, gergelim preto (o da foto ficou sem, porque o meu acabou!) e cebolinha verde. Mexi com uma colher e, em seguida, coloquei sobre essa mistura as rodelas de jiló que ferventei antes. Quem gosta de vinagre, pode acrescentar duas colheres (sopa).
Fechei o vidro e dei uma balançadinha leve.
Pronto!
Taí uma delícia que pode acompanhar, fazendo gracejos, um bocado de arroz, um ovo frito e um bife ao ponto...

E que venha o amanhã! 


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PÃO-DE-FORMA DE FARINHA INTEGRAL


Descasquei e cozinhei, só em água, duas batatas-doce, calculando que, depois de cozidas, eu teria duas xícaras (chá) de massa. Sobrou água e usei 100 ml dela, ainda bem morna, no liquidificador com a batata cozida, mais um ovo, duas colheres (sopa) de azeite, uma pitadinha de sal e uma colher (sopa) de açúcar mascavo. Deixei bater bastante. Acrescentei duas colheres de fécula de batata e duas colheres (sopa, rasa) de fermento de padaria. E tornei a ligar o liquidificador para bater só mais um pouco.
Despejei sobre três xícaras de farinha de trigo integral e mexi, com uma colher de pau. Distribuí a massa em duas formas pequenas de pão-de-forma que untei, anteriormente, com margarina, e polvilhei com farinha de trigo integral.
Embalei cada forma com um saquinho plástico para acelerar o processo de descanso e crescimento da massa. Com o calor que rola no ar, em vinte minutinhos já tinha dobrado de tamanho. Com o forno pré-aquecido a duzentos graus, levei para assar e, rapidinho, ficou supimpa.

Não tem erro. Saborosésimo não fica! Mas, acompanhado, fica uma beleza! Pode ser de uma geleia, ou de requeijão cremoso, ou de queijo, ou um belo de um ovo frito...
O importante é que o danadinho fica macio, cheio de fibras e é saudável. Periga comer além do combinado. Carece de tomar tento!
Até gente costuma ser um tiquinho insossa quando está sozinha... Mas, se fica perto de alguém que valha a pena, a aura brilha, os olhos brilham, a luz fica mais potente, o ar fica mais leve...
Ô vidinha mais ou menos!
Mais pra mais porção de coisa boa!

Menos para o que ela própria se encarrega de deletar!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

DÉCIMA DICA


Todo ano sou presenteada com quantidade enorme de tamarindos. Vêm da casa de um moço bonito, amigo do meu filho mais velho, que é pessoa querida de toda a família. Isso tem acontecido por mais de vinte anos.
Quando recebo a prenda, parto para a ação de preparar logo toda a produção de polpa. Sei que, se guardar, o fruto resseca muito e dá carunchos. Desenvolvi, então, uma prática prática de fazer a polpa para congelar e utilizar a meu bel prazer. Para ter, bem à mão, sempre que me der na telha, o gostoso deleite de saborear suco geladinho de tamarindos.
Que me perdoem meus antepassados que descascavam o fruto e retiravam a massa, fazendo bolas enormes que guardavam e utilizavam em sucos. Muitas vezes, inesperadamente, fora de época, era mimada em casa de tios que me serviam o suco maravilhoso. Gratas lembranças! Minhas reverências a eles que tinham tempo...
Sou de uma época que o tempo é mesquinho e não tem dado nem pro gasto!
Daí, minha técnica resultante dessa pressa: lavei, por duas vezes, com água de torneira, uma quantidade de tamarindos que encheu uma jarra apropriada para acondicionar suco. Tornei a lavar, por mais duas vezes, com água filtrada, os mesmos tamarindos. Depois de escorrer a última água, enchi a jarra com água filtrada e pus, sobre os frutos, um pratinho de sobremesa que teve a função de obrigar todos os frutos a ficarem imersos...
Dei um tempo bom para amolecer a polpa. Mais de quatro horas.

Retirei o pratinho e amassei, com a minha mão, os frutos que, amolecidos, deixam soltar as cascas e as sementes. Daí, peneirei para separar e descartar cascas e sementes e resultou a polpa que acondicionei em saquinhos de plástico, daqueles que usamos para fazer os deliciosos dindins...

sábado, 29 de agosto de 2015

XERÉM

Na minha casa, sempre nos reuníamos, com gosto, em volta de uma panela de canjica doce. Terminava aí meu conhecimento de como utilizar a canjica; tanto a do milho branco, como a do amarelo. Pois a canjiquinha – o mesmo milho amarelo da canjica processado em tamanho menor - tem uma vantagem cativante: pode ser doce ou agregada a ingredientes variados, sendo servida salgada. Que delícia!
Na escola pública onde lecionava, em dia de canjiquinha, até o brilho dos olhos dos alunos parecia refletir mais alegria. Foi onde conheci o prato que destaco hoje.
Normalmente, os professores não tinham o direito de lanchar, mas, se o cardápio oferecia o tal prato, o grupo participava comprando ingredientes e a merendeira aumentava a quantidade para que nós também nos deliciássemos.

Faço com carne de sol; ou com frango em pedaços e milho verde refogado à parte e incorporado ao prato, na hora de servir; ou com músculo, que também cozinho à parte; ou com carne moída... Mas o meu predileto é do jeito que me foi apresentada, no ano de 76; com frango. Também é conhecido como xerém.
Um pacote de canjiquinha de meio quilo e um frango caipira inteiro são os ingredientes básicos para este prato.
A primeira, inicialmente, foi lavada e deixada com água suficiente para cobri-la, com o objetivo de facilitar o cozimento após ficar de molho. Tive o cuidado de utilizar água quente, bem quente, para acelerar o processo. E reservei.
O frango picado recebeu o suco de dois limões e, depois de ter mexido, para uniformizar o líquido nos pedaços, fervi água e despejei sobre para uma boa escaldada. Temperei com uma colher (sopa) do meu tempero e reservei também.
Em uma panela de pressão, pus a canjiquinha e água suficiente para cobri-la, mais o equivalente à medida de dois dedos acima e liguei o fogo.    
Depois, acendi a chama mais alta do meu fogão e parti para o preparo do frango, numa panela bem grande, com um copo de óleo. Panela grande, pois, vai chegar a hora de juntar a canjiquinha e o frango. Quando o óleo esquentou bem, distribuí um terço dos pedaços e esperei fritar de um lado para virar cada pedaço e fritar do outro lado. Retirei a primeira leva frita e reservei e fiz o mesmo procedimento, mais duas vezes, com os outros pedaços, até ver todos fritos. Despejei o óleo da fritura em embalagem apropriada para utilizar quando for fazer sabão líquido. Voltei a panela para o fogo, pus meia xícara (chá) de óleo para esquentar e uma cebola ralada que esperei ficar da cor da borra de café. Aí, refoguei os pedaços de frango, acrescentei uma colher (sopa, rasa ) de açafrão; um tablete de caldo de galinha Knorr; uma colher (sopa, rasa) de açúcar; uma colher (sobremesa, rasa) de pimenta-do-reino e mexi para espalhar o tempero. Assim que percebi que estava bem incorporado, acrescentei dois litros de água que fervia em caneca, sob chama ao lado. E deixei cozinhar em fogo normal.
Não escutar o barulho da cidade é o maior bem que a vida na roça me proporciona. Tem dia que passarinho me incomoda. Gosto de ouvir meus pensamentos. Quando estou envolvida com um prato que me traz gratas lembranças, como é o caso deste de hoje, gosto de revisitar as agradáveis lembranças das companhias com quem compartilhei muito tempo bom na minha vida profissional. Sáo tantos e muitos os amigos e conhecidos que tomaram rumos diferentes, mas vivem na minha lembrança...
Também cortei, refoguei o milho de oito espigas e preparei um cozido de milho verde, bem novinho, que reservei. A receita está no blog.
Logo, logo, a canjiquinha ficou no ponto de ser misturada ao frango. Assim que o frango amoleceu bem e quase secou o caldo, despejei a canjiquinha sobre o frango, acrescentei mais água e experimentei o ponto certo do sal. Mexendo sempre, com cuidado para não deixar agarrar ao fundo, mas permitindo que carne e osso fiquem desgarrados sem uniformidade, experimentei muitas vezes para sentir se incorporou sabor. Acrescentei, então, o milho verde refogado e desliguei o fogo, considerando o prato pronto. Não costumo pôr cebolinha e salsinha no xerém. Sirvo separadamente. Quem gosta, serve-se à vontade.
Nesta vida, há momentos marcantes que merecem reverência. Somos privilegiados quando saboreamos pratos assim como o xerém, sentindo o afago das imagens doces dos momentos vividos na companhia de gente do bem que fazia, em Taguatinga, a mágica da educação prevalecer na garantia de melhor futuro para muitos.
Uma gostosura reviver lembranças com sabores...

Tá servido?

segunda-feira, 20 de julho de 2015

BOBOZÃO

Cora Coralina escreveu, com o título Meu epitáfio, um poema que começa assim: 
"Morta... serei árvore/serei tronco/serei fronde...".
Compreensível a fixação em pensar na morte e na pretensão de um depois. 
Quem de nós se furta a querer ser lembrado? 
Todos pretendemos um bom papel nesta última cena, quando fecharem as cortinas.
Também quero ser lembrada.
Pelas delícias que compartilhamos à mesa, nas nossas circunstâncias de vida familiar.
Enquanto houver vida em mim, quero ser tronco, ser fronde, sabor, energia e criatividade...
Este o meu motivo de inventar variações nas receitas de praxe. Domingo, em vez de fazer bobó de camarão, ousei e saiu um bobozão.
Numa panela de pressão, coloquei água suficiente para cobrir um quilo de pedaços de mandioca. Acrescentei uma colher (sopa, rasa) de açafrão, outra do meu tempero e outra de açúcar.
Enquanto a mandioca cozinhava, fritei, na minha frigideira Wok,  pedaços de peixe (gosto de filé de tilápia Copacol - 400gr.) que temperei, anteriormente, com uma colher (sopa, rasa) do meu tempero e o suco de um limão cravo. Antes de levar à frigideira para fritar, passei os pedaços de peixe pela farinha de trigo.
Reservei os pedaços de tilápia fritos, lavei a Wok e levei-a, novamente, ao fogo. Pus  para fritar, em duas colheres (sopa) de manteiga, uma cebola grande batidinha e, em seguida, os camarões (um quilo), anteriormente descascados, lavados e temperados com suco de dois limões e uma colher (sopa, rasa) de caldo de peixe. Para não criar caldo e, em vez de fritar, arriscar que os camarões endureçam, acrescentei uma colher (sopa, rasa) de farinha de trigo e mexi, levemente. Esperei dois minutinhos e mexi. Mais um minutinho, mexi, novamente, e desliguei o fogo.
A mandioca cozida foi levada ao liquidificador, com o líquido do cozimento, em três vezes (para não sobrecarregar o motor do aparelho) e, processada, foi jogada sobre os camarões (hora de tornar a ligar o fogo). Os pedaços de peixe frito foram picados, de maneira irregular, e acrescentados à mistura na frigideira.
Assim que ferveu, mexi, levemente, acrescentei um copo de água e experimentei o tempero. Ferveu, novamente. Pus o leite de coco de um vidrinho de 200 ml, e um copo de água e fui mexendo e experimentando.

Chamei o prato de bobozão pelo tanto que rendeu e agradou. Momentos de prazer, em boas companhias, marcam e reforçam o que a poeta eternizou no poema citado, nos seus versos finais:
"Não morre aquele/ que deixou na terra/a melodia de seu cântico/na música de seus versos."

Bom proveito, enquanto ecoam os sons festivos e cheios de vida dos sinos das nossas aldeias!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

ACHOCOLATADO


Quem dispensa afago?
Duvido que alguém tenha levantado a mão!
Pois esta receita tem o tamanho do afago maior do mundo.
Uma bebida apropriada para o inverno (mesmo que o frio não esteja castigando!).
Não vale a pena fazer pouca quantidade. Se sobrar, é só congelar e, na primeira oportunidade, dar cabo do restante.
Pus cinco litros de leite para ferver e deixei amornar. Aí, coei o leite e reservei três litros. Naquela onde fervi os cinco litros, inicialmente, deixei os restantes quase dois litros que pus para ferver, novamente.
Dos três litros restantes, separei dois copos e pus no liquidificador. Acrescentei seis colheres (sopa, rasa) de chocolate em pó (tem de ser o do Frade!) e bati rapidinho. Coei, já despejando nos dois litros de leite que ferviam, em fogo baixo. Precisei de ajuda, pois o que está no fogo exige que mexa sem parar.
Peguei mais dois copos do leite morno restante (daqueles três litros que retirei dois copos) e misturei-o a uma lata (todo o conteúdo) de creme-de-leite. Mexi bem (o leite ainda morno facilita incorporar o creme-de-leite), coei e despejei àquele que ficou fervendo (o que tem o chocolate).
Enquanto um ajudante esperto e interessado mexia o preparado, misturei seis colheres (sopa, rasa) de cremogema e uma colher (sobremesa, rasa) de canela em pó a todo o restante do leite morno, coei, e despejei no preparado que se encontrava, ainda, no fogo baixo.
Sem parar de mexer, devagar e com muita confiança na maravilha que vai resultar dessa trabalheira toda, fui acrescentando, uma a uma, quatro latinhas (o conteúdo, claro!) de leite condensado.
Ferveu mais uns bons cinco minutos e ficou pronto e digno de ser saboreado em estado de graça. Sem dúvida, é bebida urdida para ser degustada por quem tem saldo positivo de benesses a serem resgatadas com entidades do bem!

Este achocolatado tomou de assalto toda a equipe responsável pela distribuição do livro didático, no início do ano letivo de 1992. Nossa Seção de Bibliotecas Escolares e Comunitárias – a Sebec - preparou um café da manhã comunitário e alguém (desculpe-me a responsável, mas não me lembro quem nos presenteou com o mimo) se encarregou de levar o achocolatado. Foi o acontecimento do dia. Coube à querida, comprometida, competente e dedicada colega e amiga Zélma Boaventura descolar a receita. De lá pra cá, a vida passou a ter mais sabor. Uma xícara de achocolatado equivale a doces lembranças de um tempo de árdua lida e momentos interativos (quase três anos) com uma equipe de professoras devotadas ao trabalho que a educação da nossa Capital exigia.

Nós trabalhávamos com muita alegria! Éramos felizes! E sabíamos!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

PIZZA DE PÃO


Receitas práticas, tipo vapt-vupt, são tesouros que nós, as provedoras de deliciosos sabores nas memórias dos familiares temos a obrigação de compartilhar com nossas semelhantes.
Esta pizza fica deliciosa e, num piscar de olhos, desaparece. No seu lugar, fica uma profusão de sorrisos enfeitando semblantes de felicidade...
Precisei de uma forma retangular média, bem untada com margarina, para dispor, lado a lado, 6 fatias de pão de forma, com maionese espalhada na parte de cima de cada fatia.
Sobre cada pedaço de pão, arrumei uma fatia de queijo e uma de presunto e, em seguida, espalhei duas colheres (sopa, rasas) de orégano e uma xícara de molho de tomate temperado e pronto (gosto muito de usar o fugini). Cobri, então, com outras 6 fatias de pão e reservei, enquanto batia, no liquidificador, três xícaras (chá) de leite integral, três colheres (sopa) de queijo parmesão ralado, três ovos inteiros e uma pitada de sal. Essa mistura incorporada foi despejada, uniformemente, sobre as fatias de pão dispostas na assadeira. Só faltava levar ao forno para assar e, em seguida, servir para os ansiosos apreciadores das mágicas que a minha cozinha proporciona. Demorou um pouquinho. No forno médio, foram 25 minutos. Mas, cada forno tem sua simpatia e magia...
É porque sabemos que a vida é promessa de possibilidades e de uma certa garantia, que nos é dado curtir momentos assim, em família, sem precisar pensar no amanhã; apenas, saboreando o momento...

Que venham, então, os bons momentos!

BOLINHOS DE CHUVA


Gostosura da infância, o bolinho de chuva.
Quando eu era pequena, minha mãe tinha o livro de receitas da Helena B. Sangirardi. Depois de casada, também comprei o meu, em 88, assim que saiu a terceira edição.
Leio, no prefácio da autora, que foram esgotados 250.000 exemplares do Alegria de Cozinhar para chegar ao Nova Alegria de Cozinhar, o exemplar que adquiri, com muita empolgação.
Realmente, um livro de muitos encantos e muita ajuda.
Pode parecer exagero, para quem tem acesso aos meios internéticos atuais. No meu tempo, um livro era um objeto de desejo e consegui-lo era uma bela conquista. De receitas, então...
Pois foi na minha edição, à página 515, que encontrei a receita da minha infância, aquela que minha mãe fazia. O nome é sonho. Porque a autora era muito sofisticada e fazia as adequações para o moderno, buscando atingir todas as regiões do país. Mas, lembro-me bem: a tia Anastácia do Sítio do Picapau Amarelo fazia bolinhos de chuva e a ilustração era igual ao que me era dado saborear, ao vivo e recheado de sabores e gostosuras, na cozinha onde eu brincava de ser - e era - uma criança feliz.
Os ingredientes são os mesmos, mas a quantidade, com o tempo, sofreu variações. E, em vez de batedeira, uso o liquidificador. Coloquei, no copo do liquidificador, três ovos; duas colheres (sopa) de açúcar; gotas de essência de baunilha; e meia xícara (chá) de leite. Deixei bater uns minutinhos e retirei a tampa para acrescentar, devagar, três xícaras (chá, rasas) de farinha de trigo. Aos poucos, desligando e ajudando a incorporar com uma colher, ligando novamente, acrescentando mais um pouquinho de leite (pouco menos de meia xícara)... a massa foi ficando na consistência certa. Adicionei, então, uma colher (sopa, rasa) de pó-royal e mexi. O ponto da massa é o de retirar com a colher e colocar no óleo quente para fritar. Faço do mesmo jeitinho que a minha mãe: empurro com o dedo indicador a massa que a colher consegue recolher e fico olhando os bolinhos mergulhando no óleo quente e crescendo e, imediatamente, aceitando ser virado para o outro lado, para resultar num delicioso bolinho de chuva, uniformemente frito.
Retirados da frigideira, para escorrer sobre papel toalha, é só polvilhar açúcar refinado por cima e deixar a turma deliciar-se.
Ou não! Pode ter a variável da continuação, para fazê-los mais incrementados! Faço-os mesmo como sonhos. Pois abro um por um, acrescento o recheio e passo no açúcar refinado. Aí, sim, ficam como gosto.
Para fazer o recheio, despejei dois copos (americano) de leite integral; uma gema de ovo, gotinhas de essência de baunilha, meia xícara (chá) de açúcar, e três colheres (sopa, rasas) de maisena, em uma panelinha, e levei ao fogo, mexendo, sempre. Fica pronto, rapidinho.
Vou ficar devendo a foto. Quando me lembrei que gosto de compartilhar o resultado, já não tinha unzinho mais para posar para a tal foto... e estavam querendo que eu partisse para uma nova edição. Fiquei esperta e abandonei o fogão.

Lembrei-me de ligar para a minha mãe, para saber sobre o exemplar dela. A resposta alegrinha foi: “tá aqui; com folhas soltas, já sem capa, mas inteirinho”. 

terça-feira, 24 de março de 2015

MINESTRA DA NONA (SOPA DE FEIJÃO)

Porque o friozinho do outono se aliou a essa chuvinha intermitente que cai lá fora, veio a lembrança agradável da sopa de feijão da minha mãe. A sopa que ela aprendeu com a avó dela. A avó que a criou.
Nos idos anos 30, quando minha mãe era uma adolescente que enfrentava labuta diária pesada, prover o alimento era tarefa muito difícil. A família que a acolheu – a da mãe do pai dela - tinha uma equipe boa de garfo. À noite, o costume era servir, como entrada, uma minestra que era feita com o que sobrava do almoço. Uma bela duma minestra que se comia com um bom pão caseiro.  
Bom mesmo era quando a minestra recebia as guarnições preferidas; um bom pedaço de toucinho; umas batatinhas; uns bons pedaços de abóbora do refogado do almoço... Misturar arroz e macarrão não era de bom tom. Mas tinha dia que não tinha jeito e a alegria era a mesma...
Meus agradecimentos ao inventor do liquidificador! Facilitou bem; por permitir bater o já cozido feijão que é o ingrediente principal e insubstituível de uma minestra que se preza! Antes, era preciso amassá-lo e coá-lo no escorredor de macarrão, pra retirar as cascas maiores, um tanto quanto desagradáveis ao paladar.
Na minha casa, a minestra costuma ter carne moída e batatinha. Na casa da minha mãe, ela prefere só com feijão e macarrão. A dela, sempre, é muito melhor que a minha.
Pus pra cozinhar, na panela de pressão, 300 gramas de feijão, em água que o cobriu (passando dois dedos acima). Quase vinte minutos depois, já cozido, pus metade do feijão no copo do liquidificador (dividi para não sobrecarregar a máquina) e dei uma ligada rápida, para processar levemente as cascas. Despejei o feijão processado na panela de pressão onde já tinha refogado, de leve, uma xícara (chá) de carne moída (lembrando que, no blog, tem a receita da carne moída refogada e eu não fico sem ela pronta) em meia cebola batidinha e picada bem fininha. Mexi e experimentei. Pus meia colher (sobremesa) do meu tempero (outra receita do blog) e voltei a experimentar. Uma panelinha, na chama ao lado, manteve água quente o tempo todo, para ser acrescida sempre que o feijão parecia engrossar mais do que deveria (o resultado deve ser um caldo espesso).
Aqui tem um belo de um truque: experimentar molhando a ponta de um pão francês nesse caldo cheiroso, fumegante e irresistível! rsrsr
Cortei uma batatinha em tirinhas bem fininhas e coloquei-as pra cozinhar no caldo de feijão fervente. Esperei três minutinhos e acrescentei 200 gramas de macarrão argolinha; meu preferido (o costume é usar talharim; porque o macarrão feito em casa, antigamente, era o talharim). Mexi e observei; mexi, novamente, e observei e, em dois minutinhos, minha minestra estava pronta. Entre uma mexida e uma observada, arranquei mais pontinha de pão e experimentei se o sal estava no ponto. Desliguei o fogo; acrescentei uma pimentinha (em conserva) cumari amarela; duas colheres (sopa) de cebolinha picada bem fininha e três colheres (sopa) de queijo Minas fresco, cortado em tirinhas, e servi, imediatamente, porque os pães já estavam totalmente sem pontas com os agregados à minha volta, imitando meus maus modos.
Costumo pensar que o tempo que permite que o aroma e o sabor de uma panela de minestra se encontrem com a lembrança de aromas e sabores de outras panelas de minestra não é só de puro encantamento: é magia! É o tempo que parou no tempo que o tempo cuidou de guardar quietinho, congelado em cinco sentidos.

quarta-feira, 11 de março de 2015

CROQUETE


Sobrou carne cozida? Bora fazer croquete!
Minha mãe é craque. Perto dela, ainda sou amadora.
Pra esta receita é necessário ter um processador, ou uma máquina de moer carne.
Comprei um quilo e meio de músculo e pedi para picar em cubos. Numa panela de pressão, pus meia xícara de óleo de soja e três colheres (sopa) de cebola ralada. Deixei a cebola ficar com a cor de borra de café (é esse procedimento que faz o croquete ter a cor mais escura) e refoguei a carne já temperada, com uma colher (de sopa, cheia) do meu tempero. Deixei fritar bem, de um lado, para, só então, mexer, com colher de pau.
Desde que começo a sentir o cheirinho da carne fritando, sabendo que vai virar croquete, a minha cabeça já dá um giro anormal, e eu revejo a infância; a minha mãe às voltas com o fogão de lenha; e a certeza de muito sabor...

Vamos lá! A carne está fritando...
Em outra chama, pus água a ferver e despejei, na panela. Quase até cobrir a carne (vamos precisar de caldo!).
Não demorou meia hora e ficou cozida (espetei a carne, com um garfo, e senti que estava no ponto de ser processada). Retirei a carne para o copo do meu processador e voltei a cuidar da panela que deixei sobre o fogo, com o caldo da carne fervendo (quase duas xícaras). Acrescentei, então, uma xícara de farinha de trigo, mexendo bem, sem parar. O ponto da massa resultante é o de soltar do fundo da panela. Desliguei o fogo, enquanto processava a carne no meu amigo e companheiro de longa data (já estou no terceiro!), o processador Walita Master. Rapidamente!
Despejei a carne na panela e voltei a ligar o fogo. Mexi, bastante e constantemente, para não grudar no fundo (se ainda ficar mole, é só colocar mais um pouco de farinha de trigo) por uns três minutinhos.

O ponto certo para o croquete ser enrolado não é duro. É preciso levar em consideração que a carne vai esfriar e vai dar liga, com certeza. Enrolei os croquetes (veja o formato na foto) e passei-os numa mistura de farinha de rosca (três colheres de sopa) e farinha de trigo (uma colher de sopa) antes de fritá-los (fritam rapidinho, pois não levam ingrediente cru).


Quando pequena, meu pai precisava brigar comigo pra eu comer! Ele não entendia – pudera, nem eu sabia! - que eu saboreava cada naco e perdia meu siso, meu rumo, meus caminhos... Porque eu estava ocupada “fotografando” cada cheiro, a textura, cada gosto... Croquete era e é um dos meus pratos favoritos! Um dos que fotografei com os cinco sentidos!

DOCE DE ABÓBORA COM COCO

Tem dia que não basta acordar e abrir os olhos e partir pra lida... Pois é; nem todo dia a gente acorda cantando A Praça, né mesmo?
Em dias assim, enxoto a urucubaca fazendo doce. Meu jeito de dizer "Xô" pra melancolia! De dizer "vai, preguiça, badalar bem longe!".
No domingo, a norinha número dois (por ordem de chegada) já tinha dado a dica quando eu comentei que fazia tempo que não fazia doce de abóbora com coco: “é o meu predileto!”.
Então, vamos lá!

Comprei duas abóboras (dois quilos e trezentos gramas), lavei bem; cortei-as em rodelas; pus na panela, com água cobrindo os pedaços; e deixei ferver. De vez em quando, enfiava um garfo pra sentir se estava cozido e mole. Quando amoleceu, escorri a água, cobri a panela com um pano e deixei esfriando.
Quando chegou a uma temperatura suportável, peguei uma colher e raspei a massa cozida de cada pedaço de abóbora, retirando-a da casca que descartei. Com um prato fundo, medi a quantidade de massa que resultou do procedimento e a panela voltou pro fogo. Deu dois pratos bem cheios; portanto, um prato bem cheio de açúcar é a medida a acrescentar, nessa proporção que a sabedoria popular nos legou e que tem dado tão certo. Acrescentei uma pitadinha (um terço de colher de café) de sal, mexi bastante para derreter o açúcar e deixei o doce cozinhando, por bons dez minutinhos. Pra não grudar no fundo da panela, mexia de vez em quando.
A massa já estava cozida, então, a ideia é a de deixar o açúcar e a massa se incorporarem de um jeito que o resultado vira mesmo uma bela sobremesa. Assim que entendi que o doce estava pronto, acrescentei um pacote de coco ralado de 200 gramas. Mexi por mais três minutinhos e desliguei.

O doce distribuído em vasilhas de vidro vai aguardar o domingo para ser saboreado em família. Menos uma delas, que se encontra sobre a mesa, envolta em saquinho plástico. Esta segue o rumo da casa dos meus pais. Foi com eles que aprendi a gostar e a fazer doce de abóbora.

Na semana que vem, no dia 20, meu velho pai completa 89 anos de muita lida. Daqui pra lá, tomara que eu consiga fazer uns agrados assim saborosos pra ele. Que vai dizer: - Você fica fazendo doce! Você sabe que eu não ando comendo muito doce igual eu comia! E a minha mãe vai replicar: - É verdade! Não fica mandando doce pra ele, não, que ele come tudo de uma vez! Comi um pouco e, quando fui procurar, ele já tinha comido tudo que sobrou... 

GELEIA DE JABUTICABA COM CASCA

Desde a primeira vez que fui apresentada a esta geleia, não a vejo com bons olhos, quando a encontro por aí... Porque ouvi que a pessoa tinha aprendido com alguém que a fazia com as cascas descartadas, depois que chupavam a fruta! Eca! Por isso, só como essa danadinha se eu mesma a fizer.
Sou uma pessoa bem nojenta, sou sim! Deve ser porque quando aqui na chácara tem jabuticaba, tem com fartura! Só sei que, por enquanto, é assim que funciona: a geleia de jabuticaba que aprendi a fazer precisa da jabuticaba inteira. Depois de lavar todas (são cinco litros) e descartar folhas e cisquinhos comuns das flores que não vingaram, pus água, numa panela grande, cobrindo as frutas, e levei ao fogo para uma primeira fervura.
Sem mexer, assim que ferveu, despejei, devagar, a água toda e já acrescentei outra água que já tinha posto pra ferver. A maioria das frutas já começou a arrebentar desde a primeira fervura. Na segunda, então, poucas foram as que não arrebentaram (sinal de que as frutas estavam bem madurinhas). Desliguei o fogo e despejei metade da água. É importante experimentar se a casca ainda está amarga. Se estiver, tem que repetir uma terceira fervura. Neste caso, duas fervuras foram suficientes.
Licença pra contar que estas jabuticabas docinhas vieram da casa da minha mãe, na QSB 13. Ela só tem um pé e tem frutas quatro vezes ao ano. Pudera, meu pai cuida muito bom, adubando na data certa, molhando todo santo dia!... Na chácara, tenho vinte pés que só dão fruta uma vez por ano. Já até teve greve das jabuticabeiras: teve ano sem carga! Falta água, falta adubação, falta cuidado para não deixar o mato prejudicar a planta...
Continuando, então, a fazer a geleia, graças a meu pai e minha mãe: depois de esfriar, fui retirando pedaços de cascas, com as mãos, e reservei o equivalente a duas xícaras (de chá) dessas cascas.
O resto das jabuticabas cozidas, bati no liquidificador e coei. Não coei em peneira, não. Passei a massa, apertando, por aquela vasilha furadinha que escorre macarrão. Aquela com furos maiores (daí a importância de limpar bem as frutinhas antes de botar pra ferver) que deixa passar bastante massa, separando as sementes.
Medi para calcular o açúcar, e a massa coada rendeu doze xícaras. Tornei a pôr na panela, acrescentei três xícaras de açúcar; as duas xícaras de casca e um terço de xícara de caldo de limão cravo. E deixei ferver por uns bons vinte minutos. De vez em quando eu mexia. Desliguei o fogo quando percebi que começava a vidrar... Depois de frio, vi que podia ter deixado um pouco mais; ainda não estava naquele ponto que põe no pão e fica firme. Então, voltei a ligar o fogo e esperei secar por mais uns cinco minutos. Aí, constatei que não ficou só bom; ficou maravilhoso!!!!
Dia desses, fui à casa dos Brimos, na Chácara Felicidade, e saboreei uma geleia de jabuticaba com casca muito melhor que a minha. Era mais clara, mais suave e menos doce. A Brima Sandra Gimenes ganhou, de uma amiga, a vasilhinha com a iguaria e a promessa da receita. Diz minha mãe que é preciso pôr um pouquinho de bicarbonato na água da primeira fervura... Será? Vamos aguardar. Se o futuro for este lugar que idealizo, assim que eu publicar esta receita, alguém vai me ligar para contar qual é o segredo. Prometo que vou compartilhá-lo aqui! 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

PEQUI AO MOLHO

Uma coisa maravilhosa é o cheiro de uma comida que nos agrada. Num domingo de janeiro, quando se sentou à mesa do almoço, a Taís fez todos rirem porque se saiu com esta:
- Que cheiro bom de pequi!
Tanto o pai quanto a mãe vigiam a quantidade, porque a mocinha de quatro aninhos, se brincar, perde a conta e come só e apenasmente pequi com arroz. Já teve dia assim. Foi quando a avó pegou uma faca e, em vez do caldo, como fazia a mãe, cortou e pôs no prato da mocinha um tantão de lascas saborosas do fruto.

Certa vez, ouvi de um cunhado - ele já fez a viagem - que crianças não deviam ter o direito de comer quando a quantidade é pouca e a comida muito boa, porque elas não sabem saborear. Todos que ouviram riram. Eu discordei, calada. Os sabores da minha infância foram muito mais apreciados... Foram tão intensos que, muitas vezes, apenas o cheiro remete para o que foi degustado como se não fosse haver o amanhã. O certo é que houve; aqui estou eu! Mas nada é tão saboroso quanto foi registrado na memória...
Assim provou a Taís! Ela gosta tanto, mas tanto de pequi que, de férias, na praia lá em Guaibim, na Bahia, quando o pai perguntou o que ela queria almoçar, ela respondeu: “o pequi da vovó!”.
Vendo a importância do prato na vida da minha pequena, resolvi escrever meu jeito de fazê-lo. Para que ela tenha o poder – quando crescer - de comer pequi e lembrar que a felicidade, às vezes, está guardada numa lembrança simples da infância.
Comprei dois litros (21 frutos bem grandes) de pequi e lavei-os bem, antes de colocá-los em uma panela. Acrescentei três copos (americano) de água; uma colher (sopa, rasa) de óleo de soja; uma colher (sopa, rasa) de açafrão em pó; um caldo de galinha caipira; duas colheres (sopa, rasa) de açúcar; uma cebola picada e uma pimenta cumari amarela (curtida). Levei ao fogo, mexi quando ferveu, tampei a panela, deixando espaço para sair o vapor e deixei cozinhar por quase meia hora. Pronto! O caldo fica meio espesso e o fruto cozidinho para ser raspado no dente, com cuidado, por causa dos inimigos espinhos que ficam por trás da polpa amarela.
O cheiro que se espalha no ar é convite para saborear a iguaria sem remorso.

Mesmo sabendo que a quantidade de papilas gustativas na língua de uma criança é infinitamente maior que na de um adulto – vem daí, portanto, a intensidade das nossas lembranças dos sabores na infância - quando o pequi ao molho vai escasseando na panela, sinto aquele impulso egoísta que meu cunhado sentia e preciso refrear minha vontade de esconder a vasilha para poder atacá-la sozinha depois... 
                                  Pequizeiro em flor
(foto de minha autoria, num momento encantado, quando em excursão pelo cerrado, perto de Santo Antônio do Descoberto)