terça-feira, 24 de março de 2015

MINESTRA DA NONA (SOPA DE FEIJÃO)

Porque o friozinho do outono se aliou a essa chuvinha intermitente que cai lá fora, veio a lembrança agradável da sopa de feijão da minha mãe. A sopa que ela aprendeu com a avó dela. A avó que a criou.
Nos idos anos 30, quando minha mãe era uma adolescente que enfrentava labuta diária pesada, prover o alimento era tarefa muito difícil. A família que a acolheu – a da mãe do pai dela - tinha uma equipe boa de garfo. À noite, o costume era servir, como entrada, uma minestra que era feita com o que sobrava do almoço. Uma bela duma minestra que se comia com um bom pão caseiro.  
Bom mesmo era quando a minestra recebia as guarnições preferidas; um bom pedaço de toucinho; umas batatinhas; uns bons pedaços de abóbora do refogado do almoço... Misturar arroz e macarrão não era de bom tom. Mas tinha dia que não tinha jeito e a alegria era a mesma...
Meus agradecimentos ao inventor do liquidificador! Facilitou bem; por permitir bater o já cozido feijão que é o ingrediente principal e insubstituível de uma minestra que se preza! Antes, era preciso amassá-lo e coá-lo no escorredor de macarrão, pra retirar as cascas maiores, um tanto quanto desagradáveis ao paladar.
Na minha casa, a minestra costuma ter carne moída e batatinha. Na casa da minha mãe, ela prefere só com feijão e macarrão. A dela, sempre, é muito melhor que a minha.
Pus pra cozinhar, na panela de pressão, 300 gramas de feijão, em água que o cobriu (passando dois dedos acima). Quase vinte minutos depois, já cozido, pus metade do feijão no copo do liquidificador (dividi para não sobrecarregar a máquina) e dei uma ligada rápida, para processar levemente as cascas. Despejei o feijão processado na panela de pressão onde já tinha refogado, de leve, uma xícara (chá) de carne moída (lembrando que, no blog, tem a receita da carne moída refogada e eu não fico sem ela pronta) em meia cebola batidinha e picada bem fininha. Mexi e experimentei. Pus meia colher (sobremesa) do meu tempero (outra receita do blog) e voltei a experimentar. Uma panelinha, na chama ao lado, manteve água quente o tempo todo, para ser acrescida sempre que o feijão parecia engrossar mais do que deveria (o resultado deve ser um caldo espesso).
Aqui tem um belo de um truque: experimentar molhando a ponta de um pão francês nesse caldo cheiroso, fumegante e irresistível! rsrsr
Cortei uma batatinha em tirinhas bem fininhas e coloquei-as pra cozinhar no caldo de feijão fervente. Esperei três minutinhos e acrescentei 200 gramas de macarrão argolinha; meu preferido (o costume é usar talharim; porque o macarrão feito em casa, antigamente, era o talharim). Mexi e observei; mexi, novamente, e observei e, em dois minutinhos, minha minestra estava pronta. Entre uma mexida e uma observada, arranquei mais pontinha de pão e experimentei se o sal estava no ponto. Desliguei o fogo; acrescentei uma pimentinha (em conserva) cumari amarela; duas colheres (sopa) de cebolinha picada bem fininha e três colheres (sopa) de queijo Minas fresco, cortado em tirinhas, e servi, imediatamente, porque os pães já estavam totalmente sem pontas com os agregados à minha volta, imitando meus maus modos.
Costumo pensar que o tempo que permite que o aroma e o sabor de uma panela de minestra se encontrem com a lembrança de aromas e sabores de outras panelas de minestra não é só de puro encantamento: é magia! É o tempo que parou no tempo que o tempo cuidou de guardar quietinho, congelado em cinco sentidos.

quarta-feira, 11 de março de 2015

CROQUETE


Sobrou carne cozida? Bora fazer croquete!
Minha mãe é craque. Perto dela, ainda sou amadora.
Pra esta receita é necessário ter um processador, ou uma máquina de moer carne.
Comprei um quilo e meio de músculo e pedi para picar em cubos. Numa panela de pressão, pus meia xícara de óleo de soja e três colheres (sopa) de cebola ralada. Deixei a cebola ficar com a cor de borra de café (é esse procedimento que faz o croquete ter a cor mais escura) e refoguei a carne já temperada, com uma colher (de sopa, cheia) do meu tempero. Deixei fritar bem, de um lado, para, só então, mexer, com colher de pau.
Desde que começo a sentir o cheirinho da carne fritando, sabendo que vai virar croquete, a minha cabeça já dá um giro anormal, e eu revejo a infância; a minha mãe às voltas com o fogão de lenha; e a certeza de muito sabor...

Vamos lá! A carne está fritando...
Em outra chama, pus água a ferver e despejei, na panela. Quase até cobrir a carne (vamos precisar de caldo!).
Não demorou meia hora e ficou cozida (espetei a carne, com um garfo, e senti que estava no ponto de ser processada). Retirei a carne para o copo do meu processador e voltei a cuidar da panela que deixei sobre o fogo, com o caldo da carne fervendo (quase duas xícaras). Acrescentei, então, uma xícara de farinha de trigo, mexendo bem, sem parar. O ponto da massa resultante é o de soltar do fundo da panela. Desliguei o fogo, enquanto processava a carne no meu amigo e companheiro de longa data (já estou no terceiro!), o processador Walita Master. Rapidamente!
Despejei a carne na panela e voltei a ligar o fogo. Mexi, bastante e constantemente, para não grudar no fundo (se ainda ficar mole, é só colocar mais um pouco de farinha de trigo) por uns três minutinhos.

O ponto certo para o croquete ser enrolado não é duro. É preciso levar em consideração que a carne vai esfriar e vai dar liga, com certeza. Enrolei os croquetes (veja o formato na foto) e passei-os numa mistura de farinha de rosca (três colheres de sopa) e farinha de trigo (uma colher de sopa) antes de fritá-los (fritam rapidinho, pois não levam ingrediente cru).


Quando pequena, meu pai precisava brigar comigo pra eu comer! Ele não entendia – pudera, nem eu sabia! - que eu saboreava cada naco e perdia meu siso, meu rumo, meus caminhos... Porque eu estava ocupada “fotografando” cada cheiro, a textura, cada gosto... Croquete era e é um dos meus pratos favoritos! Um dos que fotografei com os cinco sentidos!

DOCE DE ABÓBORA COM COCO

Tem dia que não basta acordar e abrir os olhos e partir pra lida... Pois é; nem todo dia a gente acorda cantando A Praça, né mesmo?
Em dias assim, enxoto a urucubaca fazendo doce. Meu jeito de dizer "Xô" pra melancolia! De dizer "vai, preguiça, badalar bem longe!".
No domingo, a norinha número dois (por ordem de chegada) já tinha dado a dica quando eu comentei que fazia tempo que não fazia doce de abóbora com coco: “é o meu predileto!”.
Então, vamos lá!

Comprei duas abóboras (dois quilos e trezentos gramas), lavei bem; cortei-as em rodelas; pus na panela, com água cobrindo os pedaços; e deixei ferver. De vez em quando, enfiava um garfo pra sentir se estava cozido e mole. Quando amoleceu, escorri a água, cobri a panela com um pano e deixei esfriando.
Quando chegou a uma temperatura suportável, peguei uma colher e raspei a massa cozida de cada pedaço de abóbora, retirando-a da casca que descartei. Com um prato fundo, medi a quantidade de massa que resultou do procedimento e a panela voltou pro fogo. Deu dois pratos bem cheios; portanto, um prato bem cheio de açúcar é a medida a acrescentar, nessa proporção que a sabedoria popular nos legou e que tem dado tão certo. Acrescentei uma pitadinha (um terço de colher de café) de sal, mexi bastante para derreter o açúcar e deixei o doce cozinhando, por bons dez minutinhos. Pra não grudar no fundo da panela, mexia de vez em quando.
A massa já estava cozida, então, a ideia é a de deixar o açúcar e a massa se incorporarem de um jeito que o resultado vira mesmo uma bela sobremesa. Assim que entendi que o doce estava pronto, acrescentei um pacote de coco ralado de 200 gramas. Mexi por mais três minutinhos e desliguei.

O doce distribuído em vasilhas de vidro vai aguardar o domingo para ser saboreado em família. Menos uma delas, que se encontra sobre a mesa, envolta em saquinho plástico. Esta segue o rumo da casa dos meus pais. Foi com eles que aprendi a gostar e a fazer doce de abóbora.

Na semana que vem, no dia 20, meu velho pai completa 89 anos de muita lida. Daqui pra lá, tomara que eu consiga fazer uns agrados assim saborosos pra ele. Que vai dizer: - Você fica fazendo doce! Você sabe que eu não ando comendo muito doce igual eu comia! E a minha mãe vai replicar: - É verdade! Não fica mandando doce pra ele, não, que ele come tudo de uma vez! Comi um pouco e, quando fui procurar, ele já tinha comido tudo que sobrou... 

GELEIA DE JABUTICABA COM CASCA

Desde a primeira vez que fui apresentada a esta geleia, não a vejo com bons olhos, quando a encontro por aí... Porque ouvi que a pessoa tinha aprendido com alguém que a fazia com as cascas descartadas, depois que chupavam a fruta! Eca! Por isso, só como essa danadinha se eu mesma a fizer.
Sou uma pessoa bem nojenta, sou sim! Deve ser porque quando aqui na chácara tem jabuticaba, tem com fartura! Só sei que, por enquanto, é assim que funciona: a geleia de jabuticaba que aprendi a fazer precisa da jabuticaba inteira. Depois de lavar todas (são cinco litros) e descartar folhas e cisquinhos comuns das flores que não vingaram, pus água, numa panela grande, cobrindo as frutas, e levei ao fogo para uma primeira fervura.
Sem mexer, assim que ferveu, despejei, devagar, a água toda e já acrescentei outra água que já tinha posto pra ferver. A maioria das frutas já começou a arrebentar desde a primeira fervura. Na segunda, então, poucas foram as que não arrebentaram (sinal de que as frutas estavam bem madurinhas). Desliguei o fogo e despejei metade da água. É importante experimentar se a casca ainda está amarga. Se estiver, tem que repetir uma terceira fervura. Neste caso, duas fervuras foram suficientes.
Licença pra contar que estas jabuticabas docinhas vieram da casa da minha mãe, na QSB 13. Ela só tem um pé e tem frutas quatro vezes ao ano. Pudera, meu pai cuida muito bom, adubando na data certa, molhando todo santo dia!... Na chácara, tenho vinte pés que só dão fruta uma vez por ano. Já até teve greve das jabuticabeiras: teve ano sem carga! Falta água, falta adubação, falta cuidado para não deixar o mato prejudicar a planta...
Continuando, então, a fazer a geleia, graças a meu pai e minha mãe: depois de esfriar, fui retirando pedaços de cascas, com as mãos, e reservei o equivalente a duas xícaras (de chá) dessas cascas.
O resto das jabuticabas cozidas, bati no liquidificador e coei. Não coei em peneira, não. Passei a massa, apertando, por aquela vasilha furadinha que escorre macarrão. Aquela com furos maiores (daí a importância de limpar bem as frutinhas antes de botar pra ferver) que deixa passar bastante massa, separando as sementes.
Medi para calcular o açúcar, e a massa coada rendeu doze xícaras. Tornei a pôr na panela, acrescentei três xícaras de açúcar; as duas xícaras de casca e um terço de xícara de caldo de limão cravo. E deixei ferver por uns bons vinte minutos. De vez em quando eu mexia. Desliguei o fogo quando percebi que começava a vidrar... Depois de frio, vi que podia ter deixado um pouco mais; ainda não estava naquele ponto que põe no pão e fica firme. Então, voltei a ligar o fogo e esperei secar por mais uns cinco minutos. Aí, constatei que não ficou só bom; ficou maravilhoso!!!!
Dia desses, fui à casa dos Brimos, na Chácara Felicidade, e saboreei uma geleia de jabuticaba com casca muito melhor que a minha. Era mais clara, mais suave e menos doce. A Brima Sandra Gimenes ganhou, de uma amiga, a vasilhinha com a iguaria e a promessa da receita. Diz minha mãe que é preciso pôr um pouquinho de bicarbonato na água da primeira fervura... Será? Vamos aguardar. Se o futuro for este lugar que idealizo, assim que eu publicar esta receita, alguém vai me ligar para contar qual é o segredo. Prometo que vou compartilhá-lo aqui!