segunda-feira, 20 de julho de 2015

BOBOZÃO

Cora Coralina escreveu, com o título Meu epitáfio, um poema que começa assim: 
"Morta... serei árvore/serei tronco/serei fronde...".
Compreensível a fixação em pensar na morte e na pretensão de um depois. 
Quem de nós se furta a querer ser lembrado? 
Todos pretendemos um bom papel nesta última cena, quando fecharem as cortinas.
Também quero ser lembrada.
Pelas delícias que compartilhamos à mesa, nas nossas circunstâncias de vida familiar.
Enquanto houver vida em mim, quero ser tronco, ser fronde, sabor, energia e criatividade...
Este o meu motivo de inventar variações nas receitas de praxe. Domingo, em vez de fazer bobó de camarão, ousei e saiu um bobozão.
Numa panela de pressão, coloquei água suficiente para cobrir um quilo de pedaços de mandioca. Acrescentei uma colher (sopa, rasa) de açafrão, outra do meu tempero e outra de açúcar.
Enquanto a mandioca cozinhava, fritei, na minha frigideira Wok,  pedaços de peixe (gosto de filé de tilápia Copacol - 400gr.) que temperei, anteriormente, com uma colher (sopa, rasa) do meu tempero e o suco de um limão cravo. Antes de levar à frigideira para fritar, passei os pedaços de peixe pela farinha de trigo.
Reservei os pedaços de tilápia fritos, lavei a Wok e levei-a, novamente, ao fogo. Pus  para fritar, em duas colheres (sopa) de manteiga, uma cebola grande batidinha e, em seguida, os camarões (um quilo), anteriormente descascados, lavados e temperados com suco de dois limões e uma colher (sopa, rasa) de caldo de peixe. Para não criar caldo e, em vez de fritar, arriscar que os camarões endureçam, acrescentei uma colher (sopa, rasa) de farinha de trigo e mexi, levemente. Esperei dois minutinhos e mexi. Mais um minutinho, mexi, novamente, e desliguei o fogo.
A mandioca cozida foi levada ao liquidificador, com o líquido do cozimento, em três vezes (para não sobrecarregar o motor do aparelho) e, processada, foi jogada sobre os camarões (hora de tornar a ligar o fogo). Os pedaços de peixe frito foram picados, de maneira irregular, e acrescentados à mistura na frigideira.
Assim que ferveu, mexi, levemente, acrescentei um copo de água e experimentei o tempero. Ferveu, novamente. Pus o leite de coco de um vidrinho de 200 ml, e um copo de água e fui mexendo e experimentando.

Chamei o prato de bobozão pelo tanto que rendeu e agradou. Momentos de prazer, em boas companhias, marcam e reforçam o que a poeta eternizou no poema citado, nos seus versos finais:
"Não morre aquele/ que deixou na terra/a melodia de seu cântico/na música de seus versos."

Bom proveito, enquanto ecoam os sons festivos e cheios de vida dos sinos das nossas aldeias!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

ACHOCOLATADO


Quem dispensa afago?
Duvido que alguém tenha levantado a mão!
Pois esta receita tem o tamanho do afago maior do mundo.
Uma bebida apropriada para o inverno (mesmo que o frio não esteja castigando!).
Não vale a pena fazer pouca quantidade. Se sobrar, é só congelar e, na primeira oportunidade, dar cabo do restante.
Pus cinco litros de leite para ferver e deixei amornar. Aí, coei o leite e reservei três litros. Naquela onde fervi os cinco litros, inicialmente, deixei os restantes quase dois litros que pus para ferver, novamente.
Dos três litros restantes, separei dois copos e pus no liquidificador. Acrescentei seis colheres (sopa, rasa) de chocolate em pó (tem de ser o do Frade!) e bati rapidinho. Coei, já despejando nos dois litros de leite que ferviam, em fogo baixo. Precisei de ajuda, pois o que está no fogo exige que mexa sem parar.
Peguei mais dois copos do leite morno restante (daqueles três litros que retirei dois copos) e misturei-o a uma lata (todo o conteúdo) de creme-de-leite. Mexi bem (o leite ainda morno facilita incorporar o creme-de-leite), coei e despejei àquele que ficou fervendo (o que tem o chocolate).
Enquanto um ajudante esperto e interessado mexia o preparado, misturei seis colheres (sopa, rasa) de cremogema e uma colher (sobremesa, rasa) de canela em pó a todo o restante do leite morno, coei, e despejei no preparado que se encontrava, ainda, no fogo baixo.
Sem parar de mexer, devagar e com muita confiança na maravilha que vai resultar dessa trabalheira toda, fui acrescentando, uma a uma, quatro latinhas (o conteúdo, claro!) de leite condensado.
Ferveu mais uns bons cinco minutos e ficou pronto e digno de ser saboreado em estado de graça. Sem dúvida, é bebida urdida para ser degustada por quem tem saldo positivo de benesses a serem resgatadas com entidades do bem!

Este achocolatado tomou de assalto toda a equipe responsável pela distribuição do livro didático, no início do ano letivo de 1992. Nossa Seção de Bibliotecas Escolares e Comunitárias – a Sebec - preparou um café da manhã comunitário e alguém (desculpe-me a responsável, mas não me lembro quem nos presenteou com o mimo) se encarregou de levar o achocolatado. Foi o acontecimento do dia. Coube à querida, comprometida, competente e dedicada colega e amiga Zélma Boaventura descolar a receita. De lá pra cá, a vida passou a ter mais sabor. Uma xícara de achocolatado equivale a doces lembranças de um tempo de árdua lida e momentos interativos (quase três anos) com uma equipe de professoras devotadas ao trabalho que a educação da nossa Capital exigia.

Nós trabalhávamos com muita alegria! Éramos felizes! E sabíamos!