Foi-me encomendada, pela neta Juliana, a
receita de curau.
Antes da partida da minha
mãe, meu papel era o de registrar suas receitas. Na prática, venho assumindo o
papel de repetidora e costumo ensinar o que aprendi à neta de nove anos. E continuo registrando.
A Juju acha que estou longe de partir. Na cabeça dela, eu ainda nem fiquei doente, então, tenho muito tempo...
A Juju acha que estou longe de partir. Na cabeça dela, eu ainda nem fiquei doente, então, tenho muito tempo...
Quando faço milho verde
refogadinho, as espigas menos novinhas, aquelas que têm grãos mais endurecidos,
reservo pra fazer curau. A Juju adora!
De vez em quando, ela chega
da escola e, depois que almoça, encara o fogão, mexendo o conteúdo da panela,
enquanto vibra com a espera pela parte que mais gosta -, depois de saborear o
prato, claro.
- Vó, minha parte
predileta é na hora que endurece. É de uma vez! Parece mágica!
Hoje ela não gostou de chegar
e encontrar a panela pronta pra ir ao fogo:
- Quero aprender desde o
comecinho.
Então, lá vai: oito
espigas pequenas renderam três xícaras de milho cortadinho, que pus no
liquidificador. Acrescentei duas xícaras de leite. Assim que liquidificou, coei
o conteúdo direto na panela que irá ao fogo. Enxaguei o copo do liquidificador
(sem esquecer que ensino pra uma menina de nove anos e dois meses) e devolvi o
líquido para o copo, com a intenção de medir quantas xícaras o milho rendeu.
Enquanto despejava na xícara e, e m
seguida, na panela, contei cinco medidas. Para cada duas xícaras de caldo, adicionei
uma, rasa, de açúcar. Levei ao fogo. E pus a Juju pra mexer.
- E a pitadinha de sal,
vó? Você já pôs?
- Bem lembrado!
Quando endurece, ainda tem
que mexer mais um tempinho. Isso a Juju já praticou. É visível quando chega a
hora de desligar, pois há um brilho especial, além de sumir o cheiro de milho
cru.
Despejo o conteúdo numa
pirex, tendo o cuidado de deixar sobrar pra ver a neta deliciar-se com seu
feito, raspando a sobra na panela.
No meu tempo de menina, não
encontrávamos milho em qualquer mercadinho. Milho era grão de ouro. Só nos era
dado ter as delícias nos meses de dezembro a fevereiro. Hoje, contamos com
irrigação. Lá nos idos anos 50 e 60, criança só saboreava. Mães não se
arriscavam a deixar a mágica em mãos de criança, sob o risco de botar a perder
a iguaria...