sábado, 30 de março de 2019

MINGAU DE MILHO VERDE - CURAU


Foi-me encomendada, pela neta Juliana, a receita de curau.
Antes da partida da minha mãe, meu papel era o de registrar suas receitas. Na prática, venho assumindo o papel de repetidora e costumo ensinar o que aprendi à neta de nove anos. E continuo registrando. 
A Juju acha que estou longe de partir. Na cabeça dela, eu ainda nem fiquei doente, então, tenho muito tempo...
Quando faço milho verde refogadinho, as espigas menos novinhas, aquelas que têm grãos mais endurecidos, reservo pra fazer curau. A Juju adora!
De vez em quando, ela chega da escola e, depois que almoça, encara o fogão, mexendo o conteúdo da panela, enquanto vibra com a espera pela parte que mais gosta -, depois de saborear o prato, claro.
- Vó, minha parte predileta é na hora que endurece. É de uma vez! Parece mágica!
Hoje ela não gostou de chegar e encontrar a panela pronta pra ir ao fogo:
- Quero aprender desde o comecinho.
Então, lá vai: oito espigas pequenas renderam três xícaras de milho cortadinho, que pus no liquidificador. Acrescentei duas xícaras de leite. Assim que liquidificou, coei o conteúdo direto na panela que irá ao fogo. Enxaguei o copo do liquidificador (sem esquecer que ensino pra uma menina de nove anos e dois meses) e devolvi o líquido para o copo, com a intenção de medir quantas xícaras o milho rendeu. Enquanto despejava na xícara e, e        m seguida, na panela, contei cinco medidas. Para cada duas xícaras de caldo, adicionei uma, rasa, de açúcar. Levei ao fogo. E pus a Juju pra mexer.
- E a pitadinha de sal, vó? Você já pôs?
- Bem lembrado!
Quando endurece, ainda tem que mexer mais um tempinho. Isso a Juju já praticou. É visível quando chega a hora de desligar, pois há um brilho especial, além de sumir o cheiro de milho cru.
Despejo o conteúdo numa pirex, tendo o cuidado de deixar sobrar pra ver a neta deliciar-se com seu feito, raspando a sobra na panela.

No meu tempo de menina, não encontrávamos milho em qualquer mercadinho. Milho era grão de ouro. Só nos era dado ter as delícias nos meses de dezembro a fevereiro. Hoje, contamos com irrigação. Lá nos idos anos 50 e 60, criança só saboreava. Mães não se arriscavam a deixar a mágica em mãos de criança, sob o risco de botar a perder a iguaria...