Gostosura da
infância, o bolinho de chuva.
Quando eu era
pequena, minha mãe tinha o livro de receitas da Helena B. Sangirardi. Depois de
casada, também comprei o meu, em 88, assim que saiu a terceira edição.
Leio, no
prefácio da autora, que foram esgotados 250.000 exemplares do Alegria de Cozinhar para chegar ao Nova Alegria de Cozinhar, o exemplar
que adquiri, com muita empolgação.
Realmente, um
livro de muitos encantos e muita ajuda.
Pode parecer
exagero, para quem tem acesso aos meios internéticos atuais. No meu tempo, um
livro era um objeto de desejo e consegui-lo era uma bela conquista. De
receitas, então...
Pois foi na
minha edição, à página 515, que encontrei a receita da minha infância, aquela
que minha mãe fazia. O nome é sonho. Porque a autora era muito sofisticada e
fazia as adequações para o moderno, buscando atingir todas as regiões do país. Mas,
lembro-me bem: a tia Anastácia do Sítio do Picapau Amarelo fazia bolinhos de
chuva e a ilustração era igual ao que me era dado saborear, ao vivo e recheado
de sabores e gostosuras, na cozinha onde eu brincava de ser - e era - uma
criança feliz.
Os
ingredientes são os mesmos, mas a quantidade, com o tempo, sofreu variações. E,
em vez de batedeira, uso o liquidificador. Coloquei, no copo do liquidificador,
três ovos; duas colheres (sopa) de açúcar; gotas de essência de baunilha; e
meia xícara (chá) de leite. Deixei bater uns minutinhos e retirei a tampa para
acrescentar, devagar, três xícaras (chá, rasas) de farinha de trigo. Aos
poucos, desligando e ajudando a incorporar com uma colher, ligando novamente,
acrescentando mais um pouquinho de leite (pouco menos de meia xícara)... a
massa foi ficando na consistência certa. Adicionei, então, uma colher (sopa,
rasa) de pó-royal e mexi. O ponto da massa é o de retirar com a colher e
colocar no óleo quente para fritar. Faço do mesmo jeitinho que a minha mãe:
empurro com o dedo indicador a massa que a colher consegue recolher e fico
olhando os bolinhos mergulhando no óleo quente e crescendo e, imediatamente,
aceitando ser virado para o outro lado, para resultar num delicioso bolinho de
chuva, uniformemente frito.
Retirados da
frigideira, para escorrer sobre papel toalha, é só polvilhar açúcar refinado por cima e deixar a turma
deliciar-se.
Ou não! Pode
ter a variável da continuação, para fazê-los mais incrementados! Faço-os mesmo
como sonhos. Pois abro um por um, acrescento o recheio e passo no açúcar
refinado. Aí, sim, ficam como gosto.
Para fazer o
recheio, despejei dois copos (americano) de leite integral; uma gema de ovo,
gotinhas de essência de baunilha, meia xícara (chá) de açúcar, e três colheres
(sopa, rasas) de maisena, em uma panelinha, e levei ao fogo, mexendo, sempre. Fica
pronto, rapidinho.
Vou ficar
devendo a foto. Quando me lembrei que gosto de compartilhar o resultado, já não
tinha unzinho mais para posar para a tal foto... e estavam querendo que eu partisse para uma
nova edição. Fiquei esperta e abandonei o fogão.
Lembrei-me de
ligar para a minha mãe, para saber sobre o exemplar dela. A resposta alegrinha
foi: “tá aqui; com folhas soltas, já sem capa, mas inteirinho”.