Houve um tempo quando a casa da chácara era uma bagunça só, com adolescentes e crianças curtindo fim de semana de sol, com direito a piscina, muita bola, pão-pizza e sorvetes... Hummmm, sorvetes!
Foi
dessa lembrança que me veio a ideia de retomar – para esta recente geração de
netos merecedores de mimos – as receitas e a prática de ter sorvetes de sabores
variados para agradar geral.
De
quinze dias pra cá, já fiz três receitas de chocolate; duas de coco; uma de
milho verde; uma de limão e uma de ameixa. A predileta deles é a de chocolate.
Chamam de sorvete chicabon. Realmente, lembra muito o gosto do picolé da
Kibon... A minha receita predileta é a de ameixa.
Minha
mãe e meu pai tiveram sorveteria na nossa cidade natal e ela dizia “faça uma
base com leite, maisena e açúcar e invente, a partir daí, qualquer sabor que dê
certo com leite e você terá um preparado para congelar, bater na batedeira e
servir com gosto, porque você terá feiro sorvete”.
No
tempo dela, não havia emulsificante e liga neutra. Mas havia um outro recurso que
era o segredo da magia dos sorvetes de consistência agradabilíssima ao paladar:
um fermento. A consistência dos que meus pais faziam também contava com a magia
da máquina de sorvete da marca Toquini. Era moderna para a época, mas ainda um
recurso bem rudimentar.
Tenho
na memória cenas do creme sendo posto na bacia que rodava mergulhada na água
bem gelada, enquanto pás se moviam transformando o líquido em massa, dobrando
de volume aquele creme que meus pais - ora um, ora outro -, faziam no fogão e
esperavam esfriar para levar à máquina.
Que
delícia!
Admiradora
apaixonada por essas delícias geladas, vasculho minha memória e ponho mãos e
coração nessa empreitada, nessa alquimia que traz resultados que me fazem um
bem danado.
Então,
vamos às mais recentes receitas!
SORVETE
CHICABON
1°
passo
Numa
panela, coloquei meio litro de leite; duas colheres (sopa, rasa) de maisena e
uma xícara (chá) de açúcar. Levei ao fogo e mexi sem parar, até ferver bem e
tomar consistência de um mingau ralo. Levei ao freezer e esperei esfriar.
2°
passo
Despejei
o mingau no copo do liquidificador, acrescentei três colheres de Toddy e uma
colher (chá) de liga neutra. Deixei bater por cinco minutos. Devolvi o creme
para a vasilha anterior que voltou ao freezer. Agora, por duas horas.
3°
passo
Perto
de completar as duas horas, fiz a mistura que chamam ganache: coloquei
trezentos gramas de cobertura de chocolate meio amargo, picado, em uma pirex;
acrescentei meia caixinha de creme-de-leite e levei ao micro-ondas para
derreter o chocolate, incorporando o creme-de-leite. Coloquei por meio minuto,
retirei, mexi, voltei a vasilha para o micro-ondas por mais meio minuto e
repeti até que ficou bem líquido. Reservei.
4°
passo
Pus
a mistura que esteve no freezer por duas horas na tigela da minha batedeira e
acrescentei três colheres (sopa, rasa) de leite em pó e uma colher (chá) de
emulsificante. Deixei bater por dez minutos. Acrescentei o ganache e deixei
bater por mais três minutos.
É
lindo de ver o resultado, pois dobra o volume e fica bem aerado.
Finalmente,
foram feitos todos os passos e só falta despejar nas vasilhas de sorvete,
voltar para o freezer e esperar algumas horas (por volta de seis horas) para,
então, saborear esse manjar dos deuses!
SORVETE
DE MILHO VERDE
1°
passo
De
seis espigas de milho verde, consegui duas xícaras de caroços que levei ao
liquidificador, com um copo de leite e pus pra bater, coando em seguida,
rendendo quase dois copos. Completei com leite para alcançar meio litro de
líquido, no total. Numa panela, coloquei a mistura de leite e milho e
acrescentei uma xícara de açúcar. Levei ao fogo e mexi sem parar, até ferver
bem, tomar consistência de um mingau e cozinhar bem o milho. Levei ao freezer e
esperei esfriar.
2°
passo:
Despejei
o mingau no copo do liquidificador, acrescentei meia caixinha de creme de leite
e uma colher (chá) de liga neutra. Deixei bater por cinco minutos. Devolvi o
creme para a vasilha anterior que voltou ao freezer. Agora, por duas horas.
3°
passo
Pus
a mistura que esteve no freezer por duas horas na tigela da minha batedeira e
acrescentei três colheres (sopa, rasa) de leite em pó; a outra metade da
caixinha de creme-de-leite e uma colher (chá) de emulsificante. Deixei bater
por dez minutos.
Feitos
todos os passos, despejei a mistura nas vasilhas de sorvete, levei-as ao
freezer e esperei algumas horas (por volta de seis horas) para, então, saborear
esse manjar que me leva de volta ao passado, porque o gosto é um dos muitos que
minhas papilas gustativas registraram, lá na infância!
SORVETE
DE AMEIXA
1°
passo
Em
uma panela, coloquei meio litro de leite; duas colheres (sopa, rasa) de maisena;
uma caixinha de leite condensado e meia caixinha de creme-de-leite. Levei ao
fogo e mexi sem parar, até ferver bem e tomar consistência de um mingau. Pus no
freezer e esperei esfriar.
2°
passo
Em
uma outra panela, coloquei duzentos gramas de ameixa sem caroço; meia xícara de
água; duas colheres de açúcar e levei ao fogo até ferver por três minutos. Deixei
esfriar; pus no liquidificador, liguei o pulsar três vezes (o objetivo aqui foi
o de evitar pedaços muito pequenos) e reservei.
3°
passo
Despejei
o mingau no copo do liquidificador, acrescentei uma colher (chá) de liga
neutra. Deixei bater por cinco minutos. Devolvi o creme para a vasilha anterior
que voltou ao freezer. Agora, por duas horas.
4°
passo
Pus
a mistura que esteve no freezer por duas horas na tigela da minha batedeira e
acrescentei três colheres (sopa, rasa) de leite em pó; a outra metade da
caixinha de creme-de-leite e uma colher (chá) de emulsificante. Deixei bater
por cinco minutos, acrescentei o preparado com a ameixa e deixei bater mais cinco
minutos.
E o
sorvete maravilhoso ficou pronto, com pedaços de ameixa dando o tom diferente
na aparência certa de ter resultado saborosíssimo...
Foi
posto no freezer por seis horas.
Até
aqui, todos que tiveram a alegria de degustar essa delícia fizeram questão de elogiar
muito.
Sou
suspeita, pois é meu sabor preferido, mas ficou supimpa mesmo! Esse jeito caprichado
que empenhei, ao fazer, alcançou o objetivo, pois o sabor ficou especialmente igual ao
que as mãos de fada da minha mãe faziam. Só não consigo aquela delícia de textura, pois a máquina de bater o creme para virar sorvete era de qualidade incrível; nem se compara à alcançada na minha humilde batedeira.
SORVETE
DE COCO
1°
passo
Numa
panela, coloquei meio litro de leite; duas colheres (sopa, rasa) de maisena;
dois pacotinhos de coco ralado (100 g cada); meia caixinha de creme-de-leite e
uma xícara (chá, rasa) de açúcar. Levei ao fogo e mexi sem parar, até ferver
bem e tomar consistência de um mingau ralo. Levei ao freezer e esperei esfriar.
2°
passo
Despejei
o mingau no copo do liquidificador e acrescentei uma colher (chá) de liga
neutra. Deixei bater por cinco minutos. Devolvi o creme para a vasilha anterior
que voltou ao freezer. Agora, por duas horas.
3°
passo
Pus,
na tigela da minha batedeira, aquele mingau que esteve no freezer por duas
horas e acrescentei três colheres (sopa, rasa) de leite em pó; o restante do
creme-de-leite e uma colher (chá) de emulsificante. Deixei bater por dez
minutos.
Adoro
ver o efeito que faz o creme dobrar de volume, magicamente... Despejei nas
vasilhas de sorvete e coloquei-as no freezer. Só resta ter paciência e esperar
seis horas para começar a degustar esse sabor que nada fica a dever em relação
aos outros.
SORVETE
DE LIMÃO
1°
passo
Coloquei
250 ml de água para ferver e despejei sobre o conteúdo de um pacotinho de
gelatina de limão. Mexi bem, acrescentei mais 250 ml de água; uma xícara (chá)
de açúcar e duas colheres (sopa, rasa) de maisena. Levei ao fogo, mexendo
sempre, e esperei ferver e virar um mingau ralo. Pus no freezer para esfriar.
2°
passo
Despejei
o mingau de gelatina no copo do liquidificador e acrescentei uma colher (chá)
de liga neutra. Deixei bater por cinco minutos. Devolvi o creme para a vasilha
anterior que voltou ao freezer. Agora, por duas horas.
3°
passo
Pus
a mistura que esteve no freezer por duas horas na tigela da minha batedeira e
acrescentei o suco de quatro limões (o equivalente a meia xícara (chá)) e uma
colher (chá) de emulsificante. Deixei bater por dez minutos.
Voltou
para o freezer, por mais deis horas. Já na vasilha onde vou servir o sorvete
congelado, saboroso e cremoso.
Ficou
com a cor artificial da gelatina; um verde clarinho, em nada parecido com o
delicioso sorvete de limão que minha mãe fazia. Mas, o sabor, com o azedinho
extra dos limões cravo que acrescentei, cumpriu o papel inicial de matar a
vontade da minha criança interior saudosa das delícias que eu degustava naquela
sorveteria onde meus pais pegavam ingredientes comuns e transformavam,
magicamente, em sorvetes inesquecíveis!
SORVETE
DE CREME
Nesta
minha atual fase de sorveteira, a minha lembrança desencavou, lá nas papilas
gustativas da minha memória, o sorvete de creme que minha mãe fazia. Eu já
estava pronta pra fazer o de amendoim, mas deixei passar, pois me veio à cabeça
que o livro da Helena B. Sangirardi (Nova Alegria de Cozinhar, 3.ed, p. 454)
teria as instruções sobre como fazer. Bem que eu poderia consultar o Google,
que é nosso atual mestre cuca, mas quero o sabor mais próximo daquele que minha
saudade da infância descreve para o meu paladar.
Pois
estava lá! Não a receita toda, claro! Tem lá a explicação do comecinho do como
fazer... e cheguei a rever minha mãe quebrando os ovos e separando as claras...
Hoje,
contamos com emulsificante e com estabilizante, a chamada liga neutra. Naquele
tempo, naqueles idos anos 60, esses ingredientes não existiam.
Perdi
a conta das tantas vezes que vi minha mãe fazendo mágicas nas sessões de
invencionices de sabores... E os fregueses da sorveteria elogiavam e repetiam e
elogiavam e experimentavam todos os sabores que ela não se cansava de
reinventar.
Juntei
minha criatividade à convicta confiança de filha da Jandirinha e, inspirada,
fiz um delicioso sorvete de creme.
Bom
de rachar o bico de tanto lamber os beiços!
Não
tem erro!
1°
passo
Em
uma panela, coloquei meio litro de leite pra ferver. Em uma tigela, pus três
gemas; cinco gotas de baunilha e duas colheres de maisena. Mexi bastante, até
derreter bem a maisena. Acrescentei uma xícara (de chá, rasa) de açúcar
cristal. Quando o leite ferveu, afastei a panela do fogo (para não derramar,
claro) e, com uma concha, despejei um pouco de leite sobre aquela mistura de
ovo, maisena e açúcar. Mexi bem, acrescentei mais uma vez outra quantidade de
leite que a concha comportou e despejei essa mistura sobre o leite na panela
que voltou ao fogo. Tive o cuidado de peneirar a mistura. Mexi o tempo todo e
logo começou a engrossar.
Levei
ao freezer por duas horas, na própria panela, para esfriar.
2°
passo
Na
sequência, coloquei a mistura no liquidificador, acrescentei uma caixinha de
creme de leite; três colheres (sopa, cheia) de leite em pó e meia colher
(sobremesa, rasa, de estabilizante (liga neutra)). Deixei bater por cinco
minutos. A mistura voltou para a mesma vasilha e foi posta no freezer, por mais
duas horas.
3°
passo
Passado
o tempo, despejei o conteúdo na tigela da batedeira, acrescentei meia colher
(sobremesa, rasa) de emulsificante e deixei bater, na velocidade máxima, por
dez minutos.
Deu
dezesseis copinhos de 200 ml (não enchi; pus quantidade pouco acima da metade).
Voltaram
para o freezer.
Amanhã, depois do almoço, a meninada se lambuza e faz valer a pena esse amor todo que a avó esparrama em cada vasilhinha...