Cora Coralina escreveu, com o título Meu epitáfio, um poema que
começa assim:
"Morta... serei árvore/serei tronco/serei
fronde...".
Compreensível a fixação em pensar na morte e
na pretensão de um depois.
Quem de nós se furta a querer ser
lembrado?
Todos pretendemos um bom papel nesta última
cena, quando fecharem as cortinas.
Também quero ser lembrada.
Pelas delícias que compartilhamos à mesa, nas
nossas circunstâncias de vida familiar.
Enquanto
houver vida em mim, quero ser tronco, ser fronde, sabor, energia e
criatividade...
Este o meu motivo de inventar variações nas
receitas de praxe. Domingo, em vez de fazer bobó de camarão, ousei e saiu um
bobozão.
Numa panela de pressão, coloquei água
suficiente para cobrir um quilo de pedaços de mandioca. Acrescentei uma colher
(sopa, rasa) de açafrão, outra do meu tempero e outra de açúcar.
Enquanto a mandioca cozinhava, fritei, na minha
frigideira Wok, pedaços de peixe (gosto de filé de tilápia Copacol -
400gr.) que temperei, anteriormente, com uma colher (sopa, rasa) do meu tempero
e o suco de um limão cravo. Antes de levar à frigideira para fritar, passei os
pedaços de peixe pela farinha de trigo.
Reservei os pedaços de tilápia fritos, lavei a
Wok e levei-a, novamente, ao fogo. Pus para fritar, em duas colheres
(sopa) de manteiga, uma cebola grande batidinha e, em seguida, os camarões (um
quilo), anteriormente descascados, lavados e temperados com suco de dois limões
e uma colher (sopa, rasa) de caldo de peixe. Para não criar caldo e, em vez de
fritar, arriscar que os camarões endureçam, acrescentei uma colher (sopa, rasa)
de farinha de trigo e mexi, levemente. Esperei dois minutinhos e mexi. Mais um
minutinho, mexi, novamente, e desliguei o fogo.
A mandioca cozida foi levada ao liquidificador,
com o líquido do cozimento, em três vezes (para não sobrecarregar o motor do
aparelho) e, processada, foi jogada sobre os camarões (hora de tornar a ligar o
fogo). Os pedaços de peixe frito foram picados, de maneira irregular, e
acrescentados à mistura na frigideira.
Assim que ferveu, mexi, levemente, acrescentei
um copo de água e experimentei o tempero. Ferveu, novamente. Pus o leite de
coco de um vidrinho de 200 ml, e um copo de água e fui mexendo e
experimentando.
Chamei o prato de bobozão pelo tanto que rendeu
e agradou. Momentos de prazer, em boas companhias, marcam e reforçam o que a
poeta eternizou no poema citado, nos seus versos finais:
"Não morre aquele/ que deixou na terra/a
melodia de seu cântico/na música de seus versos."
Bom proveito, enquanto ecoam os sons festivos e
cheios de vida dos sinos das nossas aldeias!
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