sábado, 29 de agosto de 2015

XERÉM

Na minha casa, sempre nos reuníamos, com gosto, em volta de uma panela de canjica doce. Terminava aí meu conhecimento de como utilizar a canjica; tanto a do milho branco, como a do amarelo. Pois a canjiquinha – o mesmo milho amarelo da canjica processado em tamanho menor - tem uma vantagem cativante: pode ser doce ou agregada a ingredientes variados, sendo servida salgada. Que delícia!
Na escola pública onde lecionava, em dia de canjiquinha, até o brilho dos olhos dos alunos parecia refletir mais alegria. Foi onde conheci o prato que destaco hoje.
Normalmente, os professores não tinham o direito de lanchar, mas, se o cardápio oferecia o tal prato, o grupo participava comprando ingredientes e a merendeira aumentava a quantidade para que nós também nos deliciássemos.

Faço com carne de sol; ou com frango em pedaços e milho verde refogado à parte e incorporado ao prato, na hora de servir; ou com músculo, que também cozinho à parte; ou com carne moída... Mas o meu predileto é do jeito que me foi apresentada, no ano de 76; com frango. Também é conhecido como xerém.
Um pacote de canjiquinha de meio quilo e um frango caipira inteiro são os ingredientes básicos para este prato.
A primeira, inicialmente, foi lavada e deixada com água suficiente para cobri-la, com o objetivo de facilitar o cozimento após ficar de molho. Tive o cuidado de utilizar água quente, bem quente, para acelerar o processo. E reservei.
O frango picado recebeu o suco de dois limões e, depois de ter mexido, para uniformizar o líquido nos pedaços, fervi água e despejei sobre para uma boa escaldada. Temperei com uma colher (sopa) do meu tempero e reservei também.
Em uma panela de pressão, pus a canjiquinha e água suficiente para cobri-la, mais o equivalente à medida de dois dedos acima e liguei o fogo.    
Depois, acendi a chama mais alta do meu fogão e parti para o preparo do frango, numa panela bem grande, com um copo de óleo. Panela grande, pois, vai chegar a hora de juntar a canjiquinha e o frango. Quando o óleo esquentou bem, distribuí um terço dos pedaços e esperei fritar de um lado para virar cada pedaço e fritar do outro lado. Retirei a primeira leva frita e reservei e fiz o mesmo procedimento, mais duas vezes, com os outros pedaços, até ver todos fritos. Despejei o óleo da fritura em embalagem apropriada para utilizar quando for fazer sabão líquido. Voltei a panela para o fogo, pus meia xícara (chá) de óleo para esquentar e uma cebola ralada que esperei ficar da cor da borra de café. Aí, refoguei os pedaços de frango, acrescentei uma colher (sopa, rasa ) de açafrão; um tablete de caldo de galinha Knorr; uma colher (sopa, rasa) de açúcar; uma colher (sobremesa, rasa) de pimenta-do-reino e mexi para espalhar o tempero. Assim que percebi que estava bem incorporado, acrescentei dois litros de água que fervia em caneca, sob chama ao lado. E deixei cozinhar em fogo normal.
Não escutar o barulho da cidade é o maior bem que a vida na roça me proporciona. Tem dia que passarinho me incomoda. Gosto de ouvir meus pensamentos. Quando estou envolvida com um prato que me traz gratas lembranças, como é o caso deste de hoje, gosto de revisitar as agradáveis lembranças das companhias com quem compartilhei muito tempo bom na minha vida profissional. Sáo tantos e muitos os amigos e conhecidos que tomaram rumos diferentes, mas vivem na minha lembrança...
Também cortei, refoguei o milho de oito espigas e preparei um cozido de milho verde, bem novinho, que reservei. A receita está no blog.
Logo, logo, a canjiquinha ficou no ponto de ser misturada ao frango. Assim que o frango amoleceu bem e quase secou o caldo, despejei a canjiquinha sobre o frango, acrescentei mais água e experimentei o ponto certo do sal. Mexendo sempre, com cuidado para não deixar agarrar ao fundo, mas permitindo que carne e osso fiquem desgarrados sem uniformidade, experimentei muitas vezes para sentir se incorporou sabor. Acrescentei, então, o milho verde refogado e desliguei o fogo, considerando o prato pronto. Não costumo pôr cebolinha e salsinha no xerém. Sirvo separadamente. Quem gosta, serve-se à vontade.
Nesta vida, há momentos marcantes que merecem reverência. Somos privilegiados quando saboreamos pratos assim como o xerém, sentindo o afago das imagens doces dos momentos vividos na companhia de gente do bem que fazia, em Taguatinga, a mágica da educação prevalecer na garantia de melhor futuro para muitos.
Uma gostosura reviver lembranças com sabores...

Tá servido?

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