Porque o friozinho do outono se aliou a essa chuvinha intermitente que cai lá fora, veio a lembrança agradável da sopa de feijão da minha mãe. A sopa que ela aprendeu com a avó dela. A avó que a criou.
Nos idos anos 30, quando minha mãe era uma adolescente que enfrentava labuta diária pesada, prover o alimento era tarefa muito difícil. A família que a acolheu – a da mãe do pai dela - tinha uma equipe boa de garfo. À noite, o costume era servir, como entrada, uma minestra que era feita com o que sobrava do almoço. Uma bela duma minestra que se comia com um bom pão caseiro.
Bom mesmo era quando a minestra recebia as guarnições preferidas; um bom pedaço de toucinho; umas batatinhas; uns bons pedaços de abóbora do refogado do almoço... Misturar arroz e macarrão não era de bom tom. Mas tinha dia que não tinha jeito e a alegria era a mesma...
Meus agradecimentos ao inventor do liquidificador! Facilitou bem; por permitir bater o já cozido feijão que é o ingrediente principal e insubstituível de uma minestra que se preza! Antes, era preciso amassá-lo e coá-lo no escorredor de macarrão, pra retirar as cascas maiores, um tanto quanto desagradáveis ao paladar.
Na minha casa, a minestra costuma ter carne moída e batatinha. Na casa da minha mãe, ela prefere só com feijão e macarrão. A dela, sempre, é muito melhor que a minha.
Pus pra cozinhar, na panela de pressão, 300 gramas de feijão, em água que o cobriu (passando dois dedos acima). Quase vinte minutos depois, já cozido, pus metade do feijão no copo do liquidificador (dividi para não sobrecarregar a máquina) e dei uma ligada rápida, para processar levemente as cascas. Despejei o feijão processado na panela de pressão onde já tinha refogado, de leve, uma xícara (chá) de carne moída (lembrando que, no blog, tem a receita da carne moída refogada e eu não fico sem ela pronta) em meia cebola batidinha e picada bem fininha. Mexi e experimentei. Pus meia colher (sobremesa) do meu tempero (outra receita do blog) e voltei a experimentar. Uma panelinha, na chama ao lado, manteve água quente o tempo todo, para ser acrescida sempre que o feijão parecia engrossar mais do que deveria (o resultado deve ser um caldo espesso).
Aqui tem um belo de um truque: experimentar molhando a ponta de um pão francês nesse caldo cheiroso, fumegante e irresistível! rsrsr
Cortei uma batatinha em tirinhas bem fininhas e coloquei-as pra cozinhar no caldo de feijão fervente. Esperei três minutinhos e acrescentei 200 gramas de macarrão argolinha; meu preferido (o costume é usar talharim; porque o macarrão feito em casa, antigamente, era o talharim). Mexi e observei; mexi, novamente, e observei e, em dois minutinhos, minha minestra estava pronta. Entre uma mexida e uma observada, arranquei mais pontinha de pão e experimentei se o sal estava no ponto. Desliguei o fogo; acrescentei uma pimentinha (em conserva) cumari amarela; duas colheres (sopa) de cebolinha picada bem fininha e três colheres (sopa) de queijo Minas fresco, cortado em tirinhas, e servi, imediatamente, porque os pães já estavam totalmente sem pontas com os agregados à minha volta, imitando meus maus modos.
Costumo pensar que o tempo que permite que o aroma e o sabor de uma panela de minestra se encontrem com a lembrança de aromas e sabores de outras panelas de minestra não é só de puro encantamento: é magia! É o tempo que parou no tempo que o tempo cuidou de guardar quietinho, congelado em cinco sentidos.
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