quinta-feira, 8 de maio de 2014

PRIMEIRA DICA

Cozinhar é a arte da observação e da interação.
Aos poucos, fui aprendendo, enquanto esquentava o umbigo no fogão, no cotidiano corrido da minha vida dividida entre escola e casa, algumas mágicas que facilitam a lida.
Não cozinho sozinha.
 Lavo o arroz com a minha amada e saudosa tia Pina: “não pode lavar muito o arroz, tira as vitamina!”.
Tempero a salada do jeitinho que fazia a também amada e saudosa tia Arlinda: “você come com a boca muito mais gostosa, se temperar o vinagre da salada metade vinagre e metade vinho tinto!”
Tempero o bife e dialogo, na minha imaginação, com a prima Diomar: “Hoje, Diomar, vou fazer do seu jeito; acrescentando gotas de limão e óleo ao tempero e esperando dar uma curtida antes de passar os bifes”.
É dia de batatinha? Descasco-as, pensando na saudosa avó da minha nora Fabiana, que implicava (ela dizia: “tá podendo, heim?”) quando via alguém tirando a casca, em vez de passar a faca, em vez de apenas raspar a casca... O certo é só cortar quando e se tiver alguma parte danificada.
É dia de abobrinha? Lembro-me e revejo, de memória, cenas com a tia Tereza, esposa de um cunhado, ambos queridos e saudosos. Tivemos um período de convivência prazerosa, quando ela foi minha vizinha, na chácara. Trocamos, muitas vezes, histórias e receitas, em momentos de sabor e interação incríveis. Sempre receitas simples, com um toque diferente e inesquecível. A farofa de abobrinha da tia Tereza era única!
Sinto a presença da minha saudosa prima Ernesta: “vou ficar aqui pertinho, pra ver como você cozinha, mesmo sem alho, e fica tão gostoso.”
Cada ato, cada movimento, cada prato, exigindo de mim, e eu dando tratos à bola, na companhia de muitos que me são caros.
No almoço em família, num desses tantos domingos de convívio, minha mãe falava sobre o jeito que ela refoga o frango caipira. Mania de repetir ensinamentos; própria de quem está adiantada nos anos... É na “companhia” dessa mãe dedicada que faço esse prato predileto dos netos (um dos prediletos, pois vem depois da macarronada, da carne moída e da batatinha frita...).
Uma “companhia” agradável e constante é a minha amiga Vera Suguri. Essa danadinha é uma cozinheira cheia de truques. Ela faz parte de muitas receitas saborosas da minha vida e do meu blog.
Nas sobremesas e tortas doces e bolos e quitandas, tenho a “companhia” da minha cunhada Juanita e da irmã, a Carminha. Única irmã, multifuncional, prestativa e amorosa...
Pessoas que já passaram e nada acrescentaram, às vezes, aparecem. Vão na mesma rapidez que vêm...
Tem também gente que me instiga a fazer e a descobrir mais sabores, sempre com carinho, com frases elogiosas, após o encontro com o prazer de saborear a delícia do momento: os filhos, as noras, os netos...
É pensando neles que mantenho este registro.
É em homenagem a todos que mantenho este registro.
E vou passar a acrescentar dicas. As que me foram dadas de bom grado e têm sido de muita utilidade. Permanecem, porque as fui testando, ao longo da vida.
A mais marcante (tanto, que foi eleita como primeira dica!), aprendi com minha cunhada Juanita. É prática importantíssima para quando acontecem as queimaduras indesejáveis, aquelas que não nos encaminham para o hospital, mas precisam de cuidado, pra não deixar criar indesejáveis bolhas.
Fácil de praticar: é só ter, sempre, na geladeira, um tubo de pomada de sulfadiazina de prata 1%. O nome da que eu comprei (está quase acabando!) é silglós. Mas, tem outros nomes.
Meu sem jeito me permitiu receber, hoje, uma baforada do vapor da água fervente do arroz do almoço, bem na barriguinha proeminente. Odeio isso! E ninguém merece passar por todo o processo de bolha, ferida exposta e pele sensível... e dias e dias de incômodo!
Pois bem, a pomadinha geladinha à mão, três aplicações, no local judiado (a intervalos curtos), percebendo a magia da dor dando lugar a uma ligeira lembrança do incidente e... pronto! só restou a manchinha vermelha...

Obrigada, tia Juanita!

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