Hoje acordei cantando A
Praça, música do Carlos Imperial, que o Ronnie Von fez virar sucesso, na época
da minha juventude...
Normalmente, as manhãs me
deixam nostálgica. Além dos pratos que programei para o almoço, vou preparar
caldo de mandioca com carne de sol. É meu jeito de buscar refúgio nos sabores
que me relembram pessoas queridas. Cortei um quilo de mandioca em pedaços
pequenos; meio quilo de charque, em cubos também pequenos (ferventei antes, por
duas vezes, para retirar o excesso de sal); dois tomates; duas cebolas e um
tantinho de cebolinha. Primeiramente, refoguei, em panela de pressão e óleo bem
quente, os cubinhos de charque. Deixei fritar bem. Coloquei um pouco de água
fervente e pus a tampa para cozinhar mais rápido. Esperei quinze minutos e abri
a panela, depois de esperar que acabasse a pressão. A vida também tem muitos
momentos assim, em que se precisa esperar para que a pressão se esvaia no
espaço e no tempo...
Aí, acrescentei a
mandioca, a cebola e o tomate, mexi um pouco (com colher de pau), e coloquei
água suficiente pra cobrir os ingredientes. Fechei a panela e abaixei o fogo.
Demorou só um pouquinho. Uns dez minutinhos. Fiquei aqui na cozinha mesmo,
sentadinha, esperando o fogo cumprir sua obrigação de manter o fundinho da
panela no aquecimento certo. Enquanto esperava, pensei na vida e nas urgências
que ela desenha no nosso cotidiano, para fazer o tempo mais curto...
Retirei a panela de
pressão do fogo, esperei a pressão ceder, abri-a e vi que havia necessidade de
mais água. Experimentei o sal. Precisei de um bocadinho mais. Constatei que a
mandioca está bem cozidinha, quase toda dissolvida.
A fome é muita e há
muitas pendências a resolver, então me apresso a considerar que está pronto.
Tomei o caldo na minha tigelinha de boca larga, em pequenas colheradas,
calmamente, para poder apreciar o sabor. Não tem como não relaxar e curtir. As
urgências que esperem, enquanto penso na vida, nas promessas de dias melhores,
na beleza de tudo, e nas lembranças boas que o sabor, devidamente apreciado,
desperta.
Sítio Rosa Mística, 14 de
maio de 2010
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